Campos Novos sedia reunião sobre incentivos ao plantio de cereais de inverno «Voltar

Aconteceu nesta quarta-feira, 19, em Campos Novos, mais uma reunião para discutir o programa de Incentivo ao Plantio de Cereais de Inverno, para fabricação de rações.

Que a escassez do milho para alimentação de animais, especialmente aves e suínos é um grande problema enfrentado no Estado de Santa Catarina, não é nenhuma novidade. Isso se dá principalmente no Sul do País, porque é onde está a maior concentração de criação e produção de suínos. A cadeia produtiva de aves também consome uma quantidade muito significativa do grão, já que o Brasil ocupa o segundo lugar na produção de carne de frango no mundo. Pelo fato do Brasil estar entre os maiores produtores de proteína animal do mundo e o consumo do milho estar com déficit de quatro milhões de toneladas, a falta de matérias-primas para alimentação animal é preocupante e necessita de solução.

Pensando nisso, no mês passado, começaram as tratativas entre órgãos representantes dos produtores rurais Eles compartilham conhecimentos para viabilizar um programa de produção de cereais de inverno para fabricação de ração animal. Até agora foram três reuniões, sendo duas distintas, sem a presença da agroindústria, com pautas voltadas à incentivos para o plantio de cereais de inverno, especialmente trigo, aveia branca, cevada e triticale, para produção de rações. A primeira aconteceu em agosto em Chapecó, a segunda em Esteio (RS) durante a Expointer e o terceiro encontro foi em Campos Novos. Todas as reuniões coordenadas pelo Secretário da Agricultura do Estado, Airton Spies.

Participam do grupo de entidades do agronegócio e órgãos representantes dos produtores rurais como a Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro);  a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc); a Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc) e representantes  de cooperativas; juntamente com a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina; a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); além de representantes de agroindústrias do Estado catarinense.

Em Campos Novos a reunião, dirigida pelo presidente da Coocam, João Carlos Di Domenico, que participa diretamente do projeto por meio da Fecoagro/SC devido a cadeira que ocupa como vice-presidente da Federação, aconteceu na sede da cooperativa e contou com a presença do Secretário da Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies e representantes da Epagri, da Embrapa Suínos e Aves, e técnicos das cooperativas Coocam e Copercampos. Um dos objetivos dessa terceira reunião foi sobre fazer um piloto em Campos Novos- cultivando o trigo para ração e assim dar sequência ao projeto. “A verdade é que nós precisamos recomeçar uma cultura de inverno e acreditamos que, especialmente o trigo, pode voltar muito forte em nossa região”, disse João Carlos Di Domenico durante a reunião.

Na opinião de João Carlos Di Domenico, para viabilizar essa problemática da escassez de matéria prima para alimentos animais, três áreas são essenciais e precisam estar integradas. 1ª – O produtor e suas cooperativas, criando programas e fomentando a produção. 2ª – O Governo do Estado criando situações econômicas para viabilizar os projetos, especialmente o financiamento dessas safras, via seguro ou subsídios para ajustar os valores. 3ª – O interesse das agroindústrias pelo processo, pois, a cadeia produtiva precisa do consumidor final e os moinhos (hoje os consumidores finais), preferem importar o trigo do que utilizar a produção de casa. “Estamos procurando um novo canal de comercialização. Isso vai resolver os problemas do produtor, das cooperativas e das agroindústrias, já que nos momentos de crise do milho, teríamos o trigo para amenizar o problema”, explicou João Carlos.

O uso preferencial do trigo é destinado, via de regra, para alimentação humana. Entretanto, pode ser destinado viável e vantajosamente também para a alimentação animal, conforme o projeto para fomentar a cultura de inverno, em andamento. Na formulação de rações, o trigo e o triticale podem ser usados sem restrições como fonte energética e proteica.  Caso haja aceitação das agroindústrias, a primeira fase do projeto deve iniciar no final dessa safra de inverno, de forma experimental.

Segundo Airton Spies, até 2020 haverá um incremento de cerca de 20 mil matrizes de suínos em Santa Catarina, aumentando ainda mais a demanda por alimento. “Redescobrir a nossa vocação para o cereal de inverno é um novo paradigma”, disse o secretário durante a reunião, informando que a BRF e a Aurora estão interessadas no projeto.  “As duas empresas estão disponíveis para sentarmos e negociarmos”. A ideia é mostrar para as agroindústrias que elas podem ganhar, optando pelo uso de trigo como ração.

A cultura de inverno já foi destaque em Campos Novos, todavia, a falta de incentivos e a instabilidade de preços fez com que os produtores deixassem de lado. Hoje grande parte das lavouras é utilizada com coberturas de solo durante o inverno. Essa decisão dos produtores tem vários fatores em evidências. O trigo, por exemplo, dependente das condições climáticas. Como o cereal não é uma commodities, o produtor não sabe por quanto vai vender. Outro fator determinante para essa desistência do plantio da cultura de inverno está ligado ao baixo preço oferecidos pelas agroindústrias, inviabilizando o custo.

“Há 30 anos atrás se produzia trigo como se produz soja hoje”, disse Riscala Fadel Junior, produtor e vice-presidente da Coocam. O produtor perdeu a vontade e a coragem de plantar trigo e será preciso buscar alternativas para reanimá-los. A ideia é criar um novo ambiente sobre a cultura. A região de Campos Novos consegue produzir uma média de 60 a 70 sacas por hectare, tendo casos de produtores que colherem quase 100 sacas/ha. Hoje em Campos Novos, tem pelo menos, 20 mil hectares ociosos que podem ser utilizados para plantar culturas de inverno.

“Foi muito produtiva porque conseguimos conversar sobre soluções para a produção de inverno na região. Aproveitando essa oportunidade que a crise do milho trouxe para a agroindústria, principalmente para a área de ração da produção de carnes, a cultura de inverno é uma alternativa para ajudar a amenizar a crise do milho. Temos espaços e nós produtores e cooperativas precisamos fazer com que a cultura de inverno volte a ser forte, afinal, isso também otimiza e viabiliza a produção no campo”. – João Carlos Di Domenico – presidente da Coocam e vice-presidente da Fecoagro/SC.

“Cada reunião que a gente faz, ajustamos as questões técnicas e o que devemos fazer para atingir as metas. A Embrapa têm algumas responsabilidades, que é auxiliar as cooperativas na escolha e identificação dos melhores cultivares para serem adequados nesse perfil de uso na alimentação de aves e suínos. Os programas de melhoramento de trigo que foram desenvolvidos até então, nunca focaram no aspecto de trigo para ração de animas – aves e suínos. A gente sempre focou principalmente em questão de panificação. Agora vamos trabalhar em duas linhas: A questão pontual e momentânea, que é identificar dentro dos materiais já existentes, aqueles que possam ter potencial para uso imediato e assim, fazer rodar esse programa. Paralelamente vamos trabalhar em um processo a média e longo prazo, tentando introduzir dentro da linha de melhoramento genético da Embrapa, um trabalho focado na nutrição de aves e suínos”. – Eduardo Caierão, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.

“Tivemos uma reunião muito produtiva, justamente para dar encaminhamentos práticos das ações que precisam ser feitas, como por exemplo, a construção de um programa de garantias de mercado ao produtor com a agroindústria e o envolvimento das cooperativas no fomento da produção. Estamos muito organizados. Vamos adiante com esse projeto, para aproveitar as terras durante o período de inverno e produzir, cereais para transformar em ração animal”. – Airton Spies, secretário da Agricultura de Santa Catarina.

Fonte: Coocam